Sua estratégia só é boa o suficiente se você tiver a capacidade de articular sua implementação. Desde que ouvi Bob Iger (CEO da Disney e um dos executivos de maior sucesso na história do mundo corporativo) falar isso, tenho refletido muito sobre como isso é verdade e como muitas vezes pecamos em começar pelo micro antes do macro.
Você pode fazer uma linda apresentação para sua audiência. Você pode até iniciar um processo de implementação de uma estratégia, mas se você não se comunicar com clareza, não angariar apoiadores e não tiver um plano atingível e mensurável, sua capacidade de articular grandes projetos e processos se reduz consideravelmente.
Partindo deste primeiro ponto de inflexão, pergunto aos leitores e operadores do direito tributário que me acompanham por aqui: qual é a sua estratégia de implementação da reforma tributária no Brasil? Lamento dizer, mas se você ainda não tem resposta para esta pergunta, é sinal de que você já está atrás no jogo.
Inclusive, para você que neste momento possa estar se questionando se precisa responder esta pergunta por ainda não ser gestor, ou porque ainda quer aguardar um pouco mais o desenrolar dos próximos passos da reforma, é importante lembrar que o conceito moderno de protagonismo não te deixa “fugir” desta problemática.
Protagonismo é para todo mundo e pode ser atingido por todo mundo. Independente do seu momento de carreira, da sua posição hierárquica ou da sua personalidade. Ser protagonista é ter atitude, é ter foco, é agir primeiro para beber água limpa.
Se você está em um momento inicial de carreira, te sugiro refletir sobre a essencialidade das suas atividades e habilidades considerando um mundo ainda mais dinâmico e tecnológico.
Se você já é um gestor ou gestora tributária, te sugiro refletir sobre como você vai desenvolver e reter talentos para este grande processo de implementação da reforma e como você vai investir nos melhores recursos tecnológicos com o objetivo de garantir no longo prazo melhores resultados vis a vis o seu custo de operação tributária.
Feitos estes comentários de natureza introdutória, fiquei me perguntando como poderia contribuir para auxiliar pessoas de tax a serem protagonistas e decidi oferecer minha usual curadoria de materiais globais com o objetivo de proporcionar um norte verdadeiro de navegação para aqueles que querem se aproveitar de um mar azul de oportunidades pessoais que surge com a reforma tributária.
Antes de mais nada, um recado para aqueles que ainda lamentam a aprovação da reforma nos moldes vistos:
Aceite que dói menos. Este navio já partiu. Agora é o momento de pensar se você consegue participar da articulação política de aprovação das leis complementares, seja a nível de governo, associações ou órgão de classe, e se a pessoa a quem você se reporta tem a sensação de que você é o melhor nome para conduzir o processo de implementação. Você precisa ser a pessoa certa para conduzir esta jornada de maneira proativa, tempestiva e colaborativa. Lamentar fatos já ocorridos não vai te ajudar em nada.
Dito isto, começo minha curadoria municiando as reflexões com algumas das tendências globais, que vem sendo apresentadas como desafios para implementação de reformas tributárias ao redor do mundo.
No ano passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu prestigioso blog, teceu alguns insights a respeito dos riscos e oportunidades de reformas tributárias ao redor do mundo, em especial para os países-membros da OCDE. Dentre estes, é apontada uma crise de eficiência, eficácia e justiça na apuração de impostos, na qual os remédios propostos são maiores investimentos em tecnologia embarcada com dados de qualidade, alocação de receitas em países menos desenvolvidos para posterior tributação, além de maior equilíbrio entre alíquotas e incentivos fiscais. Interessante verificar aqui que estes mesmos remédios se aplicam perfeitamente ao nosso processo de implementação da reforma tributária.
Nesta linha, recentemente a diretora do Centro de Administração e Políticas tributárias da OCDE, Manal Corwin, reforçou a necessidade de inclusão e colaboração internacional para que países-membros e países que buscam ser membros consigam difundir a ideia de que Tax Policies fortes e documentadas são a melhor forma de mapear e medir os processos de reformas tributárias globais. Isto também aponta uma oportunidade para empresas neste processo de reforma no Brasil: se tornarem referências na preparação e divulgação de políticas tributárias, algo que vem crescendo em nosso país, mas ainda a passos lentos.
Em sua última publicação de inverno, a International Tax Review trouxe um ponto muito interessante para reflexão, no sentido de que a inteligência artificial sem dúvida já mostra resultados dentro da indústria de tax, mas que obrigações fiscais “menos inteligentes” ainda serão realidade durante muito tempo, de forma que precisamos estar preparados para entregar soluções distintas em tempos de transição e mudanças dependendo da necessidade.
É partindo desta tríade de reflexões internacionais que volto minha atenção aos comportamentos esperados de profissionais de tax que buscam ser protagonistas neste momento único que temos no Brasil com a reforma tributária.
Atitude de vanguarda: como sabemos, a vida imita a arte. Arte esta que tem profunda correlação com o conceito de vanguarda, pois foram expressões artísticas e acadêmicas que sempre estiveram à frente de seu tempo, inspirando e propondo novas formas de ver a vida. Como exemplo podemos trazer a introdução do cubismo por Pablo Picasso nos idos de 1900, Albert Einstein mudando a noção de tempo e espaço ou Sigmund Freud transformando a forma de se explorar o subconsciente. O mérito destes artistas e pensadores, além de sua enorme inteligência, foi fazer primeiro do que os outros, foi estar um passo à frente de outros gênios que ficaram imóveis em suas observações. Vanguarda é sobre fazer primeiro do que os outros para beber água limpa.
Uma indústria de articulistas: a filósofa alemã Hannah Arendt foi eternizada quando disse que “viver é um ato político” e sem dúvida esta afirmação é corretíssima. Em um mundo relacional, os articuladores conseguem extrair o melhor de seus apoiadores e detratores, fazendo com que as peças do tabuleiro privilegiem a sua agenda estratégica. Articular é se conectar e se comunicar estrategicamente, sabendo conectar pessoas, ideias e objetivos em comum. É isso que precisamos fazer interna e externamente no mundo de tax. Fazer política em seu melhor sentido e criar comunidades que tem na colaboração seu maior ativo para superar em conjunto os desafios futuros de tax com a reforma tributária.
A era dos contadores de história: de acordo com a Harvard Business Review, uma boa história apresenta uma batalha entre expectativa e realidade, em que um herói ou heroína consegue ao final de sua apresentação fazer com que pessoas tenham projeções de futuro viáveis e consigam estipular próximos passos e ações a partir das reflexões propostas. Se a sua história não gera empolgação, esperança e vontade de continuar te ouvindo nesse mundo cheio de informação, você precisa contar essa história de uma maneira diferente, lembrando que toda história tem uma oferta. Capriche na sua.
Inteligência tributária com a ajuda da inteligência artificial: o ciclo de tax precisa ser ainda mais virtuoso e o mindset para atingir mais inteligência tributária precede a utilização de tecnologias, visto que os sistemas, prompts e metadados que temos respondem a estímulos humanos, até mesmo as inteligências artificiais mais generativas que temos disponíveis. Tax não pode mais começar e terminar na apuração do imposto. Tax começa na compra do insumo, na nota de entrada, nos custos e despesas de capital, nas localidades de compra e venda, em aspectos macroeconômicos e setoriais, nas notas de saída, em possíveis regimes especiais. Tudo isso vira dado. Para posteriormente virarem melhores informações, algoritmos e, consequentemente, decisões. Pensem nisso.
Criando conexões de valor: se você não é de verdade, você não fará conexões de verdade. Apertar mãos é a parte mais fácil do processo. Difícil é manter os contatos que você faz. Seja interessado e interessante, troque conhecimento e informação. Participe de eventos e comunidades. Ajude para ser ajudado, porque o mundo dá voltas. Volte à origem do relacionamento humano e receba novos colegas em sua vida de braços abertos, sem contudo esquecer que a vida é uma relação de troca e você precisa sempre ter uma oferta para aqueles que você quer ter por perto.
O objetivo das considerações acima é fazer com que você perceba que protagonismo requer muito trabalho intelectual e braçal. Requer força de vontade e brio para estabelecer uma estratégia robusta e articulável. Protagonismo não é para todo mundo e é opcional.
O ponto é que a indústria de tax nunca viu momento tão propício para brilhar quanto hoje, mas para se tornar um protagonista você precisará investir tempo, massa encefálica e recursos financeiros. Para se aprimorar. Para estudar com mais qualidade, com foco nas habilidades que o mercado realmente quer ver demonstradas agora.
Você está pronto para ser protagonista?
Tax is cool, 2024 is coming!
Fonte: Jota
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